quinta-feira, 29 de agosto de 2013

FIM DE TARDE

Um pinheiro gigantesco guarda a pequena piscina diante do varandim. A relva decliva. Abertas as portadas, nos caixilhos os vidros como espelhos. Um potro passa por fora da vedação. 18 e 15 do 15 de Setembro de 2013. Um estúpido galo canta. Ainda não sacrificadas pelos incêndios, cobrem de verde os montes copas de incontáveis árvores. Um motor ao longe, na estrada que liga terras de bouro à estância termal do gerês. Um camião, por vezes percebe-se, a transbordar a água do fastio que brota destes cerros. Oiço a voz e o piano da nina simone em little girl blue, disco sem mácula. Bebo café em chávena dupla e preparo-me para fumar. Deixo de escrever

sexta-feira, 26 de julho de 2013

NEM TUDO...

Nem tudo o que aqui fica merece o papel.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

DA MORTE EM VIDA

Eu digo-te como é
A cara dos que sofrem
Muito aqueles que
As tuas lágrimas não 
Salvam e haviam já morrido
Quando deste por eles. 

É a cara da
Surpresa pelo 
Limite do 
Suportável da
Existência há
Muito passada.

Eles vivem sem 
Querer viver contra 
Eles vivem e nós miramos
De longe o rosto 
Da dor a máscara
Da desesperança a
Morte em vida.


Outubro 2008



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

QUASE TODOS

Lareira que me acolhe em
Novembro quase estranho
Numa sala do ribatejo mexe
Nemésio as mãos sábias e pose
De cão de estar na tv preta
E branca sobre um parapeito
Com estante e dezenas de
Livros da colecção vampiro.

Quentes as vozes dos anfitriões
E as nossas.

Quase todos mortos.

26/27-II-2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

DO MERECIMENTO

Rápida   esguia
Apanhado o cabelo   oh
Tão bem apanhado
Passas-me por baixo
Da janela e nem suspeitas
Que o vislumbre dos teus quadris
Adivinhados sob o longo casaco
Doutra época os sapatos dum
Castanho eduardino ou vitoriano
E o teu cabelo apanhado   oh
Tão bem apanhado   nem suspeitas
Me mereceram este poema.

19/21-II-2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ÁRVORE -- atraiçoo Mario Benedetti

Era uma árvore sem nome que à noite
não em todas as noites mas em algumas
se tornava quase luminescente
como um tic vegetal da sua alegria

mas as corujas e os morcegos
as corujinhas e os mochos
ficavam tão perplexos
que desapareciam

e no entanto ela era assim
porque aquela árvore albergava
um sentimento em cada folha
e a luminescencia apenas era
a excitaçao do seu coração

numa noite de tempestade
um raio abrigou-se na sua copa
mas esta não apagou as suas luzes
e o raio desfez-se

há que ter em atenção
que em cada amanhecer
a árvore apagava-se
isto é dormia

às vezes despertava
cheia de passarinhos
mas não era a mesma coisa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O QUE INTERESSA

Esmifra-te pá!

Instalado copo
Na mão cigarrilha
Entredentes tenho
O cinismo para tirar
O insuficiente do que
Escreves para existir.

Mantém-te pobre pá
Incorrupto e só
Só durante o tempo
Que o talento to permitir.

Não tenho a coragem
Do teu sofrimento se
Fores dos meus deixarás
Gargalo e mortalha e
Passarás empoltronado
Ao amor que  segura.

Passarás ao que interessa.

I/II - 2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ESTORIL (CASA)

Uns partiam
Eu ficava
Outros eram presos
Eu ficava
Alguns morriam
E eu ficava.

Mundo fora 
Do mundo e fora 
Do tempo vestígio 
Único brilho de 
Empréstimo quando
Tudo à volta era 
Roto pobre e feio.